Um
céu luminoso, uma linda paisagem e um corpo preso ao tronco marcado pelo
sofrimento. O belo “12 anos de escravidão”, de Steve McQueen, traz um retrato do horror
provocado pela escravatura do ponto de vista de um pai de família que é
enganado e escravizado. Nos Estados Unidos, Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor, de “2012”) tinha
uma vida tranquila com a esposa e os dois filhos, até o momento que recebeu a
proposta de dois homens para tocar violino para um público ainda maior do que
aquele que assistia a seus concertos habituais.
Deixando-se
levar pela lábia da dupla, o músico é aprisionado, vendido e levado para uma
fazenda. Apesar de saber escrever e tocar instrumentos, o rapaz precisa
esconder suas habilidades, mas mesmo assim começa a despertar a inimizade em
outros subalternos.
Mesmo
tendo a confiança de seu primeiro proprietário, Ford (Benedict Cumberbatch, o Sherlock
Holmes da série de tevê e indicado recentemente ao Oscar por “O Jogo da
Imitação”), Solomon não consegue convencê-lo de que é livre e acaba por ser
repassado ao desequilibrado Edwin Epps (interpretado pelo ótimo Michael Fassbender, o Magneto de "X-Men Primeira Classe").
Munido
de seu violino, a música, outrora uma forma do trabalhador esquecer da situação
pela qual estava passando ou ainda de recordar os bons tempos, torna-se um
instrumento de tortura, já que o fazendeiro acorda seus escravos durante a noite para fazê-los dançar e cantar como se fossem marionetes. Perceba que até
uma canção pode ser usada para torturar, a exemplo de Singin' in the Rain, imortalizada por Gene Kelly, que em Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, foi cantada pelo protagonista Alex enquanto este violentava uma mulher.
Na
fazenda, durante o dia, homens e mulheres precisam colher quilos e mais quilos
de algodão, em grandes quantidades para não apanharem. A jovem Patsey (Lupita
Nyong'o) era uma das que mais se empenhava no trabalho, mas isso não
era o suficiente para satisfazer o patrão, que abusava da garota que ainda
brincava de boneca. Essa subtrama lembra um pouco a relação que Leôncio
mantinha com Isaura, de A Escrava Isaura,
obra que inspirou duas novelas. Nesse livro, o patrão era apaixonado pela
escrava, não medindo esforços para mantê-la sob seu domínio. Ao contrário
desta, Patsey, entretanto, não contava com um abolicionista para lhe salvar.
Como
se fosse culpada, a esposa do fazendeiro descarregava a raiva na moça,
despejando, porém, no marido suas frustrações e minando sua confiança,
insinuando que os trabalhadores não o respeitavam e ainda o faziam de bobo. E
quando a colheita começou a apresentar problemas, Epps, no ápice de seu fanatismo religioso, culpava os escravos pelas perdas na lavoura.
Tentando
não bater de frente com o casal, Solomon tentava contornar as provações que se
apresentavam, mas mesmo assim esses tormentos o alcançavam, a ponto de, por
exemplo, ser obrigado a bater em Patsey a mando de Epps.
Entre
um belo campo e outro, surgia uma cena dura ou outra contemplativa e até em
silêncio, mas todas importantes para compreender tudo aquilo que o protagonista
estava sentindo. O engraçado é que, na minha visão, a presença do ator Brad
Pitt não acresceu tanto à trama, apesar da importância do personagem na
história. Pela interpretação, Pitt pareceu estar só reprisando algum outro
papel e sua atuação poderia ter sido executada por outro ator, visto o tempo de
exposição na tela.
Felizmente,
a história do trabalhador, que é baseada em fatos reais, terminou bem, mas não
podemos dizer o mesmo de todas as outras pessoas que morreram ao longo de
décadas de escravidão no mundo todo, lembrando que o Brasil também foi uma das
nações que mais demorou para abolir a escravatura, somente em 1888 com assinatura da Lei Áurea.
Mesmo
assim, ainda há resquícios desse sistema, seja o preconceito ou
ainda se levarmos em conta as condições de trabalho atuais de diversas pessoas no mundo todo, cuja situação é vergonhosa.
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