quarta-feira, 3 de junho de 2015

Dor e Imaginação em “O Labirinto do Fauno”

Como vai tudo, bem? No post de hoje vou recomendar um filme que divide um pouco a opinião das pessoas, pois há quem considere assustador demais para crianças e fantasioso para o gosto dos adultos: “O Labirinto do Fauno”. A faixa etária no Brasil para esse filme, quando foi lançado, era de 16 anos e acho que vi o filme assim que saiu em vídeo. Assisti com o áudio original, o que dá mais intensidade aos diálogos e às cenas.

Filmes como esses causam algumas sensações no público e, no meu caso, foram tensão e certa melancolia. A história de “O Labirinto do Fauno”, de Guillermo Del Toro, é retratada na Espanha recém-saída da Guerra Civil, e apresenta a história de Ofelia (Ivana Baquero), uma menina que fica órfã de pai e agora se vê deixada de lado em um local retirado, cheio de soldados, já que a mãe, Carmen (Ariadne Gil), casara-se com Capitão Vidal (Sergi Lopez), militar, e agora estava grávida.
Fotos: divulgação.
No local, havia a empregada Mercedes (Maribel Verdú), que amparava a menina, mas que também vivia uma situação delicada, já que participava do grupo que estava organizando uma rebelião contra o governo. Sem ter com quem conversar, a garota passeia pelo jardim que rodeia a área e depara-se com um mundo à parte, povoado por criaturas mágicas, misteriosas e complexas, como fadas e o Fauno do título. O visual é belo e emana emoções diversas, e contrasta com a sobriedade das cenas que retratam os diálogos dos adultos, carregadas de violência e dor.

O Fauno (um misto de homem e bode, interpretado por Doug Jones) diz que a menina é uma princesa perdida e que, para retornar ao seu reino, precisa enfrentar provas para mostrar que é digna de pertencer à realeza. Em uma das etapas, a garota descuida-se e acaba deixando uma das fadas que a acompanhava morrer, pois cedeu à tentação de comer frutas da mesa de um terrível mostro, cujos olhos são encaixados nas mãos. Branco como uma cera e com as mãos tateando a presa, Pale Man (também desenvolvido por Jones) quase captura a menina, que escapa, mas leva uma bronca do Fauno.

Nessa cena, ele me lembrou um pouco o Grilo Falante, que tentava orientar o teimoso Pinóquio que só queria saber de “matar aula” e se divertir. E embora aquele fosse um ser horroroso, o padrasto de Ofélia talvez fosse pior, violento com Ofelia e até com a própria esposa.

Enfrentando os obstáculos e o próprio medo, a menina avança na jornada para se tornar princesa, ao mesmo tempo em que vai lidando com as perdas: o falecimento da mãe, a partida da amiga, a retirada do irmão de seus braços e, por fim, a vida. No fim, ou você crê que a mocinha conseguiu se unir aos pais e todo o mundo de fantasia era real, ou você opta pela conclusão de que tudo não passou de devaneios de uma criança que, em meio às tristezas, criou um universo fantástico que se tornou uma válvula de escape frente a tanto sofrimento.

Refúgio esse que buscamos sempre quando o real nos parece inacreditável e difícil de lidar, mesmo quando não convivemos no dia a dia com guerras ou monstros. 

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